2017/05/19

Dia 2385

Como diria Jim Morrison: Esse é o fim. Chegou a última hora, o último minuto e o último segundo. Irei respirar fundo e tudo isso vai sumir, como o sopro de um dente de leão ao vento. Vou deitar e ir perdendo a consciência aos poucos e por último, fecharei meus olhos calmamente até que o meu tempo pare. Irei descansar, enfim.
Sempre penso no que vem depois de tudo. Desde quando eu era um garotinho quis entender meu propósito aqui e porque continuamos lutando dia após dia. Seria muito mais fácil ficar deitado na cama ouvindo a chuva lá fora, mas tento levantar com um propósito diferente toda manhã. Saio da cama cedo independente do dia, vejo minha mulher dormindo profundo ao meu lado. Calço meus chinelos e vou para cozinha esquentar o café. Tento me esforçar mais no trabalho, prestar mais atenção em casa e na minha esposa. Visitar minha mãe e irmã. Tentar vencer meu orgulho e mandar uma mensagem para meu irmão que não vejo a anos. 
Fico pensando na minha carreira. Em fazer outra faculdade ou seguir com uma pós graduação e algo assim. Em comprar um carro ou guardar dinheiro para o apartamento com dois quartos. Penso em aumentar a família, comprar um berço? 

Retomar projetos antigos ou iniciar um novo. Praticar mais exercícios. Posso ser qualquer coisa, um fazendeiro, um barbeiro, cozinheiro. Poderia até ser um bárbaro ou lenhador. Um escritor que mora em uma cabana. Qualquer coisa, mesmo que a arquitetura da minha vida sempre mude quando eu tomo uma decisão definitiva sobre o caminho que vou seguir. 
Talvez os desvios da minha vida sejam na verdade um retorno para a linha do meu destino escrito por Deus. Sei que ás vezes fui para lados ruins e por vários motivos em contradição ao que sempre digo e para isso não há desculpas. São meus passos, meus primeiros erros. Então, é nessa parte que eu faço um breve resumo quase que diário sobre a minha vida até aqui. Fico me perguntando: E o que vem depois? Por mais que eu viva um dia de cada vez e tente resolver todos os problemas que aparecem na mesma instante para justamente não perder tempo, uma hora ou outra eu penso no amanhã.
Eu tenho um tesão pela vida que não cabe em mim. Eu quero sentir tudo o máximo que eu puder. Talvez esse seja o meu maior defeito, essa intensidade pelo mundo. Mas tem algo na estrada que me seduz. Algo na música que me aproxima do espírito. Algo nos meus olhos que me aproxima ainda mais daquilo que é fantástico. E um dia, um dia vou ficar velho. Meus filhos ou os filhos dos meus filhos vão vir me abraçar e vou ser respondido por todas as perguntas que fiz para a vida esse tempo todo. 

Vou me sentar em uma poltrona reclinável contando histórias de príncipes e princesas para a mais nova com ela sentada sobre meu joelho prestando atenção nos meus lábios enquanto leio pausadamente com enfase em todos os pontos de espanto e surpresas daquele livro repetido que ela adora. 

Vou cobrir a mais velha na cama e dar um beijo na minha esposa. Apagar as luzes da sala e ir até a varanda olhar o céu. Chegou a última hora, o último minuto e o último segundo. Irei respirar fundo e tudo isso vai sumir, como o sopro de um dente de leão ao vento. Vou deitar e ir perdendo a consciência aos poucos e por último, fecharei meus olhos calmamente até que o meu tempo pare. Irei descansar, enfim.  

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