2016/08/14

Dia 2302


Ela é linda. Clichê maior não existe. Mas é a mais pura verdade. Ela é o tipo de garota que ficaria incrível até mesmo em uma camiseta que tivesse quatro vezes o tamanho dela. Quando eu a vejo sorrindo, o mundo para por uns instantes. Ela não precisa se esforçar muito para me agradar. Ela gosta de filmes, o que ajuda muito. Ela é sagitário, devora livros e ama animais. Mas não é só isso. É a forma como ela me faz sentir. É a liberdade dela, que combina perfeitamente com a minha. Ela me estragou um pouquinho. Tirou minha razão. Fez com que eu me lembrasse que ainda é possível sentir. E a parte mais louca nisso tudo, é que eu gostei.
Eu sei, eu sei; você também sabe, o jornaleiro da rua de baixo também, a vizinha que faz bolo de chocolate também. Mas o problema é que algo a gente tem em comum: a vontade que dê certo. A vontade de fazer com que os nossos singulares solitários virem algo maior, a vontade de regar um sentimento fundo e bonito, a vontade de ser qualquer coisa, mesmo sem saber o que fazer com a grandeza dessa coisa toda. Dá um puta medo, eu sei. E isso nós também temos em comum: medo. Medo de que os cinco por cento de esperança que nos restam, falhem. Medo de que a correnteza do abismo seja mais forte do que as águas da felicidade. Medo que percamos os remos. Medo de não sabermos nadar e afundarmos em algo que mal temos ideia do que é. Mas, ainda assim, apesar de todos os ventos contrários, algo mais sutil nos sopra que vale a pena. Não sei ao certo a lógica disso, nem tento entender. Porque, se com tantas opções de histórias mais fáceis, mais belas e mais compreensivas por aí, ainda assim, nós continuamos insistindo na nossa, bem, isso certamente quer dizer alguma coisa. E essa alguma coisa é a base de tudo. Ou melhor: é o que sustenta o nosso nada.
A gente se olha como se isso fosse uma coisa inédita. A gente se olha muito devagar porque já se olhou rápido demais. A gente se olha mais uma vez e sempre, como quem não quer esquecer nenhum detalhe dessa vez porque a gente já se esqueceu demais. Milhões de lembranças falhadas em preto e branco disputam espaço na minha cabeça atribulada enquanto eu reparo que agora há uma aliança em um dedo importante da mão esquerda dela. Aquilo devagar e profundamente, como uma constatação final e definitiva de que eu a ganhei para sempre. Ela sorri e acena graciosamente, como tudo o que sempre fez, e é nesse momento que eu me esforço para tentar lembrar que tipo de cara eu fui para ganhar uma garota como ela. Cada músculo do meu corpo parece ser golpeado por algum lutador de boxe muito bom. Sou golpeado de felicidade. A gente ama e ama de novo. Não tem jeito.

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