2016/07/21

Dia 2294

Eu estava preso naquela cena de bar onde as pessoas ali presentes tem uma falsa ideologia de lealdade enchendo copos e fazendo brindes. Quem enche mais o copo? Quem pede a próxima rodada? Mas depois, no fim, quando você volta para casa e põe a cabeça no travesseiro é apenas você sozinho novamente. Sem nenhuma alma para lhe fazer companhia chega um momento que a gente precisa aprender a se cuidar sozinho, se virar sozinho, sem ter um colo pra gente se aconchegar, sem uma voz pra nos acalmar, sem um abraço para nos apertar. Logo após, abraçado á solidão nos rendemos ao mais próximo que nos causar conforto, seja uma pessoa, um hobbie ou até uma vida inteira diferente. E depois de tudo isso ainda, no fim, vamos continuar sozinhos. Porque certas coisas acontecem apenas para serem passageiras e não pelo resto da vida. Ou da outra vida ainda. 
Preste atenção, se não esta fazendo parte do seu futuro é porque hoje faz parte do seu passado. E passado a gente não traz para o presente e estragar tudo. Deixa lá atrás, bem de lado, quase esquecido. Como par de meia que cai atrás da gaveta. Não faz diferença. Se não te faz feliz no hoje é porque já passou e não te fez feliz no ontem. Não adianta manter por perto aqueles que não fazem diferença na sua vida. A felicidade esta presente no atual momento, mas não precisa de platéia. Felicidade é um show particular.
E depois de tantos copos e tantos porres, ela disse que depois que eu tomasse essa decisão as coisas ficariam mais difíceis. Bom, ela tinha razão. Eu sempre questionei minha existência. Desde bem novo. Acho que tudo começou quando perdi alguém que amei. Quando essas coisas acontecem, cai a ficha de que somos então... Finitos. É como a um livro, nossa história uma hora ou outra chega ao fim. Mas antes disso até, houve um acidente. Um grande acidente. Nenhum ferido. Apenas um morto. Ele infelizmente não resistiu. Lutou para viver, mas não conseguiu. Houve uma batida, ficou tudo uma bagunça. O coração esta estilhaçado e a alma, hemorrágica. Morreu por dentro, ainda não temos certeza se afogado pelos próprios sentimentos ou se isso foi suicídio. Além disso teve uma concussão. Já não pensava mais. O teu mundo sacudiu. 
Sobre a minha existência ou a existência individual de cada um, há vários paradigmas e doutrinas educacionais, religiosas, psicológicas e culturais que nos fazem acreditar pertencer a algum lugar. Você pode quebrar a cabeça como fiz nos últimos dez anos pelo menos ou revirar o Google de cabeça pra baixo tentando entender onde fica esse "aqui" que buscamos. Pra mim, esse "aqui" é na risada dela. Mas isso eu conto depois. Agora, uma das coisas que aprendi na minha historia foi mais voltado ao nosso questionamento existencial como pessoa. Alguém me disse uma vez que o lado psicológico e sentimental se unem a fim de agarrar alguém ou algum ponto que assimilam a imagem daquilo que mais sonhamos. É nessas que cometemos os maiores erros. Porque nem sempre o que você quer é realmente o que você precisa. Ela dizia também que as vezes congelamos por muito tempo nosso estado emocional para encontrar nosso lugar no mundo. Mas ai me pergunto como encontrar o mundo a qual pertencemos? Ou como realmente vamos saber que pertencemos á algum mundo? Ás vezes o mundo pode ser uma pessoa ou um lugar. E ás vezes até, dentro de nós. 
Ela ja dançou, virou o copo e saiu por ai sem compromisso. Por outro lado eu já não sabia mais onde estava meu copo, o dono da banca de jornal sabia minha marca de cigarros favorita e a garota na minha cama eu nem sabia o nome. Abandonamos tudo isso. Sabemos o outro lado desse mundão e não precisamos voltar. É tudo uma questão do que vale a pena. Vale a pena você largar o copo para segurar a mão de alguém? Vale a pena você deixar 200 mulheres de lado sem sorrir para fazer apenas uma? Sacrifícios, é isso que fazemos pelas pessoas que amamos.
Teu olhar é uma arma carregada com todas as balas. Você repete baixinho “não posso perder você” e fico imaginando o porquê. Não consigo manter ninguém por perto durante muito tempo, eu me conheço, faço os outros cansarem. E, por incrível que pareça, dessa vez eu estou me esforçando muito para que isso não aconteça. Eu sou caos na maior parte do tempo, mas um dia desses eu descobri que teu caos também é contínuo. Pensei então em conseguirmos fazer do nós o nosso próprio porto seguro. É que eu te olho nos olhos e sinto vontade de guardar teu olhar em um cantinho dentro de mim. Eu te olho rindo e sinto vontade de emoldurar seu sorriso na parede do meu quarto. Eu te olho indo embora e sinto vontade de gritar pedindo para viver sempre dentro do seu abraço. Você se tornou a pessoa de quem as canções falam. 
Eu não sou de sentir falta ou saudade de ninguém, mas ás vezes, raramente, há aquelas exceções. Hoje é de você que sinto falta. Sinto falta daquele teu perfume que no início você perguntou se eu achava bom. Confirmei. E nos dias seguintes você usava o mesmo perfume até acabar o frasco. Sinto falta dos sinos batendo na igreja da praça ao 12:00PM quando você me ligava no almoço. Da sua risada descendo as escadas do primeiro andar da tua casa. Da sua mão vindo por cima da minha para andarmos de mãos dadas na rua, mas depois a minha mão ficando por cima da sua querendo dizer "eu também sei cuidar de você".

Eu sei viver sozinho. Você sabe viver sozinha. Mas pra que abraçar a solidão se a gente pode se abraçar? Deus sabe lá porquê eu te amo. Se eu pedi para acontecer? Não, não. Se eu tentei impedir? Também não. Agora, vamos ver no que dá. É bom ter alguém para amar. É bom sentir algo e saber que é recíproco. É bom te olhar, e observar a segurança que me traz tão levemente. Eu te encontrei e acabei me encontrando junto. Cada detalhe seu se encaixa perfeitamente em cada espaço vazio em mim, e essa nossa simplicidade me encanta. Assim como o tom da tua voz, e o modo como tenta ser engraçada só pra me fazer rir nos piores dias. Você é encantadora, embora ás vezes duvide disso. Mas não duvide, não. Você é aquele ponto de paz que amansa o meu coração. Por isso, eu não posso ficar sem esse teu jeito. Por isso, eu não posso ficar sem você.

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