2016/06/19

Dia 2281

Um tempo atrás eu troquei o número do meu celular. Chamei uma amiga que não falava a muito tempo para repassar e ela anotar na agenda. O tipo de amizade que você fica meses sem dar noticias e ai um dia ou outro você manda uma mensagem de bom dia, pergunta como andam as coisas e as novidades são contadas. Ela trocou de emprego, eu me formei. Ela teve uma crise no namoro, eu vou casar. Ela adotou mais um cachorro e agora eu estou indo a igreja. Mas dessa vez foi diferente. Ficou sabendo das últimas noticias, como eu estava feliz e me disse "Eu queria ser como você. Passa pelas coisas mas logo se renova. Da uma nova oportunidade para si mesmo e aproveita." E na hora eu ri, brinquei. Nos despedimos. Mandei pensamentos positivos pra ela. Espero que ela fique feliz e que se saia bem e tenha novas histórias boas pra me contar na próxima vez.
Mas será que se ela soubesse as dores maiores que eu que tive que suportar diria o mesmo? As coisas que ouvi. Tudo que vivi. Um tempo atrás eu parecia a única pessoa a se importar comigo. Tem dias que me encontro tão doído que penso que é meu fim. Mas nunca é. E meus dias são cada vez mais repletos de quases fins até eu topar com uma pessoa em uma esquina qualquer e pensar com a ingenuidade de uma criança aprendendo os tons do mundo, que a covinha dela que aparece quando eu sorrio é realmente muito charmosa e meus olhos são dois faróis a iluminar o caminho de volta dos marinheiros em alto mar (e essas particularidades todas que nos fazem tão únicos são tão evidentes a quem tiver um olhar mais atento, mas todos querem olhar as coisas tão depressa, mas que diabos querem fazendo isso?). Mas passa. 
Bom, mas na parte que ela disse eu concordo completamente. Eu me renovei. Demorou um tempo, admito. Pra que eu parasse de cometer erros tentando fazer a coisa certa e começasse a fazer a coisa certa finalmente. E eu encontrei alguém também. Que pela primeira vez eu não quero que isso tenha prazo de validade. Porque chega uma hora na nossa vida que olhamos para trás e vemos todas as pessoas que passaram pela nossa vida e o prazo de validade que se estabeleceram. E em um ponto a gente chega a pensar que não vai dar mais certo com ninguém ou que vamos ser sempre assombrados pelos fantasmas do passado. Nessa hora Deus desvia o caminho de outra pessoa só pra ela aparecer na tua esquina e conhecer você. 
E nós dois rimos no parque. Rimos muito. E pela primeira vez, em duas semanas, eu me senti bem, me senti feliz, senti como se todo o peso que carregava nos últimos dias tivesse sido tirado de mim. A vida é mesmo engraçada. Em um momento estamos querendo nos trancar no quarto, chorar até o travesseiro precisar ser substituído por outro, enquanto nos cercamos de lembranças boas de pessoas não tão boas assim. Até que algo ou alguém vem te resgatar desse luto idiota e te faz querer abraçar o mundo rodopiando ao som da sua música favorita.
Só que não vou conhecer ela. Bom, só uma parte. E talvez ela não vá conhecer uma parte minha também. E por mais que eu passe vinte anos, trinta, quarenta do lado dela ainda sim, alguma parte eu não vou saber. Porque somos todos baús cheios de segredos. Leva tempo até um ou outro segredo sair e encostar na nossa orelha. Essa parte da vida dos dois, chama-se confiança. Sobre ela, eu conheço segredos suficientes pra querer estar ao lado dela. Ela é tão calada mas ri tão verdadeiramente que contagia o humor do vento, traz uma doce paz a qualquer lugar cheio de pessoas vazias. Ela se destaca principalmente por ser silenciosa em mundo que todos são barulhentos demais.
Ok, eu não sei coisas sobre ela. Como qual vai ser o humor dela amanhã quando acordar. Como fazê-la me ouvir quando esta com raiva. Que noticia do jornal pode ser interessante para mostrar á ela. Se ela quer ser mãe de um menino ou de uma menina. Se ela vai me perdoar quando souber que acabei com o M&M's que estava na geladeira. Se ela acredita na imensidão do que é aquilo que começamos a criar. Se ela ainda sonha comigo. E não é isso que queremos? Ser a parte bonita do sonho de alguém?
Posso até não conhecer esses detalhes dela. E mais outros tantos outros. Mas eu quero, quero muito. Iria me arrepender pelo resto da vida se não pedisse pra ela ficar do meu lado até descobrir todos eles e outros tantos outros. Porque eu sei que quando chegar o tempo em que vou achar que não há mais nada a ser descoberto, vou lembrar que ela é um baú de segredos. E mais que isso... Que eu tenho que fazer muito por onde merecer todos os que estão lá dentro. Vou esperar por isso. Porque esperar é uma forma linda de dizer: Eu confio.

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