2016/03/02

Dia 2210

Hoje acordei sozinho como todos os outros dias e ela ainda estava dormindo do meu lado. Usava camiseta regata branca com gatinhos desenhados e uma calcinha de algodão branco. Me levantei com cuidado pra não acordá-la e fui até o banheiro lavar o rosto. Depois até a cozinha preparar o nosso café da manhã. Ela acordou e me procurou na cama, ao não me encontrar sabia que eu estava fazendo o café e que ganharia mais um bom dia sem precisar se levantar.
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Hoje eu acordei sozinho como todos os outros dias. Levantei e lavei o rosto, usei o banheiro. Nada fora do normal. Procurei um café requentado no bule e um cigarro, algo pra forrar o estômago e poder sair de casa antes das sete da manhã. 
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São semanas que separam esses dias de hoje. É incrível como o tempo passa. Em um dia são flores e no outro só temos os espinhos cravados na nossa mão. Em um dia você beija os lábios dela e no outro só sente o gosto amargo do cigarro na ponta da boca, quase pedindo, implorando pra não estar ali. Logo eu que nem gostava de cigarros. Mas o que você faria com um dia a mais?

Dizem que pra você entender o fim você precisa voltar ao começo. Eu teria feito algo diferente? É claro que não e provavelmente nem ela. Teríamos brigado da mesma forma. Teríamos nos precipitado demais. Teríamos nos provocado e depois nos abraçaríamos. Teríamos feito muita coisa. Mas o que realmente deveríamos ter feito, não fizemos. "Vocês deveriam ficar juntos" - as pessoas dizem. Enquanto isso, eu ataco ela desse lado e ela me ataca do lado dela. Quando vamos parar com isso e nos abraçar entre os lençóis amassados de novo? Eu sinto tua falta.
Sabe aquelas histórias onde no fim do filme a tela abre em um grande cenário natural, com grama  e casinhas de madeira no meio da neve ou perto de uma floresta? Lareira soltando fumaça da lenha queimando do lado de dentro. Marcas de pegada na entrada seja de terra marrom úmida ou neve degelando. Eu não me importaria de ir para um lugar assim com ela, longe de toda multidão onde ela conseguisse apenas olhar nos meus olhos e ver que amo ela. O problema sempre foram os outros, nunca ela. 
Então, hoje eu acordei sozinho como todos os outros dias. Levantei e lavei o rosto, usei o banheiro. Nada fora do normal. Procurei um café requentado no bule e um cigarro, algo pra forrar o estômago e poder sair de casa antes das sete da manhã. O dia passou e eu nem liguei. Fui dormir cedo, do mesmo jeito que acordei. Sozinho.
Escritores não morrem simplesmente. Ou bebem até a morte ou estouram os miolos.

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