2015/04/24

Dia 2087

Eu queria saber no bolso de que calça eu deixei a coragem de mudar as coisas. Marlboro, mentos e mais tudo aquilo que couber na mochila. E cá estava eu aqui, sem dormir. Um livro aberto, que por mais interessante que fosse a história hoje ele era o livro mais chato do mundo. Um café meio começado, meio tomado, meio esfriando na xícara em cima da cama. Pensava em fechar os olhos e arriscar no indicador sobre o mapa, onde parasse seria um destino. Nada mais importa, nem que me levasse pro sentido do oceano. Mas amigo, navegar em minhas águas é quase suicídio. Meu oceano é sempre o mesmo, entende? Eu evaporo quando me quebro, e me refaço quando sou chuva. Transbordo quando o meu mundo se torna pequeno e me torno raso quando a imensidão me sufoca. Tem uma profundidade infinita dentro de mim. O problema não é transbordar. O problema é: e se eu morrer afogado?
Os dias que são replay não me interessam mais. Viver para pagar contas não me chama a atenção. Quero conhecer a liberdade, não ouvir histórias sobre ela. Sempre me espanta pessoas revelando tão raivosamente sua pequeneza, seu egoísmo, sua cegueira social. Espanta, mas não surpreende. Estupidez vem no pacote de condicionamentos sociais. Você consegue identificar suas próprias idéias dentro da cabeça em meio a tantas informações das idéias dos outros vinculadas aos nossos cotidianos chatos? 

Queria fazer atividades que deixaria Tolstoi orgulhoso. Queria na verdade, ter meu próprio ônibus mágico. Esqueça as palavras difíceis, os textos imensos e com frases ilógicas, os “poréns” dos quais me encho sem ter afirmado nada anteriormente e as aventuras que passo sem sair da minha cama. Esqueça a minha complexidade, pois hoje eu despertei com um gosto simples na boca, um gosto de vida, embora eu ainda esteja descobrindo o que significa metade da vida. Esqueça que eu me complico. Eu estou esquecendo de complicar.
Fico me perguntando o porque me arrisquei ir mais ao norte se voltei pra ficar sentado novamente atrás de uma mesa. Francamente, pessoas como eu não nasceram pra ficar atrás de uma mesa a não ser para escrever. Sou do tipo de pessoa que adora pegar a estrada e manda cartas por correio para os amigos e familiares dizendo "Hey - seja onde for - aqui é legal, sinto saudades". Mas sem parar em um lugar definitivamente. Pega os teus sonhos e coloca dentro de uma mochila, pegue o teu melhor sorriso e segue o teu caminho.
Às vezes paro pra pensar em como seria se eu estivesse, talvez, mudado o rumo das coisas. Se eu tivesse agido de outra forma, se eu não estivesse naquele lugar. Uma coisa aprendi viajando por ai é que tanta gente vive em circunstâncias infelizes e, contudo, não toma a iniciativa de mudar sua situação porque está condicionada a uma vida de segurança, conformismo e conservadorismo, tudo isso que parece dar paz de espírito, mas na realidade nada é mais maléfico para o espírito aventureiro do homem que um futuro seguro. A coisa mais essencial do espírito vivo de um homem é sua paixão pela aventura. A alegria da vida vem de nossos encontros com novas experiências e, portanto, não há alegria maior que ter um horizonte sempre cambiante, cada dia com um novo e diferente sol.
Infelizmente, para algumas pessoas viver é o problema. O que já eu, particularmente acho um grande pecado. A vida é grande demais pra se preocupar com qualquer bobagem.

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