Um sonho é um teatro íntimo. Consegue entender? Não para fugir da realidade, mas para encontrá-la.
Era o terceiro andar de um prédio pequeno de três andares e a cobertura onde ficavam as instalações de tv a cabo e a antena de avião com aquela ponta vermelha. O prédio mesmo pequeno, precisava dessa antena. Da janela da frente, o sol. Nos fundos, a cidade inteira. É como se o mundo começasse ali, primeiro naquela casa e naquela janela. Ali era o inicio de tudo.
"Devo ficar ou devo ir?"
Fiz essa pergunta a minha vida inteira. Logo quando eu era pequeno e subi em cima da bicicleta a primeira vez, lembro-me de ter feito essa pergunta. Quando perdi a virgindade também. Quando aceitei meu primeiro emprego. Quando desobedeci uma autoridade. Quando atravessei a fronteira. Enfim, em diversas esquinas da minha vida me deparei com essa pergunta. Já desejou que as coisas fossem somente simples? Pois é!
Meu desejo é mais simples - e menos clichê. Quero que o universo nos trate bem. Quero que haja flores pelo nosso chão. Quero que as palavras sejam menores do que as atitudes, e que tentem vir sempre acompanhadas umas das outras. Quero as correntes frouxas e os abraços apertados. Que não busquemos o martelo para quebrar os frios corações humanos, mas o fogo que os derreta e a mão que os impulsione. Que não nos falte o depois. E que haja poesia.
Eu acho que estou feliz. Não é uma felicidade daquelas que parece que vamos flutuar como um balão de gás. Mas uma alegria sólida, como se eu olhasse para a estrada e visse que o pior ficou pra trás.
No fim da tarde a cortina fazia sombras no chão. Eu gostava de deitar no sofá velho e olhar as formas que as sombras tomavam parte do chão. Consigo ficar horas vendo isso. Imaginando parte dos meus mundos, acho fantástico como minhas projeções me divertem. Ás vezes tenho até medo de ficar preso dentro de alguma delas mesmo sem entendê-las. Mas, concluir menos e aprender mais, esse tem sido meu lema. É verdade que existe uma ânsia de entender cada coisa, mas o que não se percebe é que quando definimos algo excluímos outras possibilidades de compreender o mundo e nós mesmos. Nada é apenas de um jeito e de uma forma específica. Há uma multidão de olhares que se cruzam e se afetam. Ter mais calma com a vida, com o mundo e com as pessoas, observar mais e absorver mais. Nada como ter duas ou três opções de escolha para dar o próximo passo
E ai... "Devo ficar ou devo ir?"
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