2015/01/25

Dia 2042

Um tempo atrás falei como foi quando ela partiu. Sobre, quando ela foi embora...
Mas enquanto a mim? Sobre, quando eu fui embora...

Rezando para que o telefone tocasse ou, que jamais ele trocasse de número ou mudasse de casa. "E se o instinto de ser livre dele tomar conta de todo ele? O que vem depois? Pra onde ele vai?" - pensava. 
Os caminhos dessa cidade quem concedeu a apresentação foi ele. É como se cada pedaço dessa cidade ele, o viajante, estivesse perto ou com um pedaço de seus achismos e suas histórias. Mas sem nada disso, a cidade ficou escura. Escura mais que o breu do quarto vazio com a porta aberta sábado a noite. É nessa hora que as canções de Cícero começam a fazer total sentido. 
Não é tristeza. Não é só tristeza sabe? Não é unicamente a própria tristeza mas sim as consequências de ter perdido o guardião. E isso deixou totalmente vulnerável a qualquer ataque de saudade, medo, angustia, pavor e a pior de todas: A solidão. 
De longe parece aquelas crianças de castigo no canto do quarto, mas de perto é aquela mulher beirando os 30 sem um caminho e propósito para seguir de volta pra casa nas segundas-feiras após o trabalho.
A cidade ficou maior do que deveria talvez. Essas ruas ficaram grandes para as lembranças do que aconteceu e sobre o que era pra acontecer ali. Ninguém se torna feliz se não beija na chuva, se não ri do pé na poça de água, se não escorrega na calçada molhada e principalmente se não decora a porta da casa dele esperando ele voltar pra casa no fim do dia.
E olha como se torna cruel todo café da manhã de domingo, todo cinema no sábado a tarde, todo boa noite toda noite e todo bom dia de manhã em todas as manhãs. A torta de limão na geladeira ou as panquecas esfriando. Corta o cabelo, pinta o cabelo, compra uma roupa nova e leva o cão pra passear na droga da rua vazia.
Bom e hoje é segunda-feira. Odiamos as segundas-feiras. Só há duas pessoas que não odeiam as segundas: Os apaixonados e quem tem um gato.
Quando ela foi embora, eu peguei uma praia, cai na piscina, vi o por do sol e comi muito alcaçuz. Já quando eu fui embora e não sabia mais voltar, que bom que você veio. Você veio pra ficar? Que bom que esta aqui. Vem, que te faço um cafuné... É isso. Ninguém é tão louco que não possa encontrar outro louco que o entenda. Mas sei o que o ódio faz com um homem. O afasta. O transforma em algo que não é. Algo que prometeu a si mesmo que nunca seria.
Bem, o tempo que eu fui embora desaprendi o caminho de volta. Que bom que sabia onde eu estava e veio me buscar... Esqueci as chaves na sua bolsa, meus documentos e também a minha vida inteira.

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