2015/01/19

Dia 2037

A gente só consegue diferenciar o que é real do que não é, quando sentimos a dor que isso causa. Você se machuca, a ferida cura, a cicatriz some mas a dor no momento não passou. Nunca passa. Você que perdeu um braço ainda sente seu membro coçar, não sente?
- Se isso é amor, eu não quero. Tire isso de mim, por favor. Porque dói tanto?
- Porque era real.
E a gente continua fazendo isso, achando que o tempo vai fazer esquecer. Que com o tempo cicatriza. Que com o tempo não vai doer mais. Eu desconfio do tempo, porque ele não me fez esquecer nada. Meu amor era distante, cuidadosamente, como um alguém que fotografa pássaros e borboletas.
Dentro de mim ás vezes parece como imagens capturadas pelo telescopio Hubble. Aquele vácuo infinito preenchido com pequenos pontos de luz que são as estrelas e cada ponto é como uma lembrança. A lembrança de como a via e de como ela virava o volante, mas não era só isso. Era como se ela estivesse abrindo um cofre. Ou quando ela volta do banho pro quarto e eu estou sentado lendo. Ela acha que eu não vejo quando deixa a toalha cair pra se vestir. E aquela cena parece um ensaio de ballet com os passos apressados em frente o espelho pra se cobrir logo.
Mas quando foi que ignoramos nossos outros planos felizes por um olhar delicado? Eu fico, por uma hora, uma semana e um mês. Mas me diz, você vai casar comigo?

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