2014/09/01

Dia 1962


Antes de qualquer coisa eu digo que você não deveria ler esse texto até o final. Você tem dezenas de outras coisas mais interessantes para fazer que vão ocupar ao máximo seu tempo e a bateria do seu celular, o mesmo que você segura agora ao ler cada palavra aqui. 
E assim como a bateria do seu celular que já esta ultrapassando a barrinha verde para ir á "zona de perigo" muitas coisas acabam. A pergunta inicial de tudo isso é: O que é infinito?
Sim, eu assisti A Culpa é das Estrelas esse final de semana deitado debaixo da coberta na cama com a minha mulher comendo sorvete de chocolate branco, me julguem. Foi um pouco depois quando eu estava na padaria e mandei foto da geladeira pra ela escolher o sabor e ela disse pra levar o Laka branco. Eu pensei comigo "boa escolha", eu sou viciado nessa droga. Mas ela não sabia até eu comer duas travessas. Enfim... Colocamos o filme e eu não coloquei muita fé nele. E ele é bom sabe? Não é um clichê, ele me surpreendeu. Não é nenhum blockbuster mas conseguiu me fazer pensar. O garoto da história diz que seu maior medo é ser esquecido. É, quem não quer ser lembrado né amigo? 
As pessoas fazem isso desesperadamente todo o tempo com suas fotos de si mesmas. De uma forma incrivel tentando marcar o tempo todos os dias para que daqui, 10-20 anos pensem como mudaram ou o que conseguiram nesse tempo. Mas tenho que dizer, isso é um tanto quanto inutil. 
O primeiro questionamento que veio na minha cabeça foi: O que devemos fazer para sermos lembrados? Schopenhauer fez mais do que mudar o rumo da historia e você, aposto, que nem sabe quem é esse cara. Schopenhauer acreditava no amor como meta na vida, mas não acreditava que ele tivesse a ver com a felicidade. E ai podemos incluir o dizer de Shakespeare, dizendo que: "A dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional." Significa que não necessariamente porque você ama, você esta feliz. E quer saber porque? Eu conto...
Por causa do medo. Voltando ao filme, podemos dizer que eles temiam a morte não por ser um fim, finito, mas sim... Porque iriam se afastar. Todo mundo tem medo de alguma coisa, não da pra negar. E o segundo questionamento que veio na minha cabeça foi: Do que você tem medo?
Eu, mais do que a maioria sei o que é ver algo ser finito. Eu já devo ter dito - é claro que eu já disse alguma hora - que perdi meu pai muito cedo. Eu tinha dez anos. Iria fazer onze, um mês depois que ele morreu. Naquela época, em frente ao jazigo dele por diversas vezes me vi pensando na vida e como ela é frágil. E ali, eu tive o primeiro entendimento do que é algo finito. E não digo de matéria, mas de algo que simplesmente não vai mais existir e somos obrigados a aceitar. Sabe, namoro que você terminou da pra reconstituir. Dinheiro que perdeu da pra conseguir de volta com bom trabalho. Uma bota velha da pra ser concertada. Mas tem coisas que não tem como voltar. Eu queria ter tido a oportunidade de dizer como eu o amo e como sinto a sua falta. Mas não tive. Ás vezes demoro mais no banho e fico falando comigo mesmo, como se ele pudesse me ouvir. Espero quando encontra-lo novamente ele me diga "é, eu ouvia tudo" assim não vou me sentir tão idiota por falar sozinho debaixo do chuveiro.
Não sei definir palavras como 'único' ou 'amor' e até mesmo 'tempo', mas sei definir palavras como 'saudade' e 'esperança'. Saudade é quando eu estou na fila do supermercado e vejo um pai brincar com seu filho no carrinho. Esperança é o que eu tenho quando penso que posso fazer isso mais pra frente. 
Assim, da mesma forma que eu não consigo algumas coisas porque entendo o que é o finito eu penso quando escrevo. Quero dizer, esse pode ser meu último texto. O que eu deveria dizer? Algo engraçado para fazer aparecer um sorriso nos lábios ao chegar no ponto final? Ou algo emocionante para que você retire trechos e cole no seu mural, na legenda da sua foto na praia ou algo assim? Ou os dois? Eu penso nisso por breves segundos e logo esqueço e continuo a escrever. Bom, mas nem sempre as coisas se acertam no próximo parágrafo não é mesmo?
Por isso, eu quero pedir desculpas a cada mulher que magoei porque fui um babaca. Em especial a minha mulher. Não que isso vá valer de alguma coisa mas, enfim... Se esse for meu último eu não quero pensar que não disse o que deveria.
Aliás, por favor nada de tristeza. Não é á toa que eu só tiro foto fazendo alguma graça, nada de sorrisos ou caras simpáticas. Eu gosto mesmo é das caretas. Não quero minhas fotos expostas em um video com alguma música triste de fundo e as pessoas chorando olhando aquilo. Eu morro de novo se isso acontecer. Mostrem as caretas e toquem Brasilia Amarela dos Mamonas. Nada de igreja ou padres passando mensagem de esperança em trechos da Biblia. Isso é pra quem quer pedir perdão ou agradecer pelo filho que sarou de uma doença. Me levem para o campo e um data-show enorme. Quero as pessoas tirando sarro de mim e rindo junto comigo. Ao fim, joguem minhas cinzas ao mar. Recebam isso como um pedido pessoal, isso claro, se esse for meu último texto. 
E... Lembram da mulher do sorvete Laka? Bem, depois de falar tanto de finito deixa eu falar um pouco de Infinito. Ela é meu infinito cara. E não há nada mais importante pra mim. Não há nada que eu faça no meu dia ou pense que ela não esteja ali. Eu fui embora e voltei e ela ainda estava aqui. As pessoas não fazem mais isso. As pessoas não fazem e ela fez. Depois de nós dois destruirmos nosso relacionamento, foi ela que nos salvou. E por isso eu vou ser eternamente grato. Ela nem faz idéia de que eu estou falando dela nesse exato momento, ela esta na faculdade e eu deveria estar estudando. Mas que se dane, ela é linda e tem o melhor abraço de todos. E de uma forma que não sei explicar, ela salva todos os meus dias. Antes, agora e depois. Tudo isso porque ela é meu infinito. 
Alguns são maiores que outros. Obrigado.
Eu te amo.

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