2014/08/30

Dia 1959

Não sou nada surpreendente, sou previsível e você sabe muito bem disso. Eu só saio com horário marcado, sou completamente fissurado por pontualidade. Eu não sei fazer surpresas, porque uma semana antes todo mundo já sabe que no aniversário de namoro vou te levar flores e dizer o quanto amo fazer tudo isso ao pé do seu ouvido. Eu planejo o trajeto das viagens, eu comprimento todo dia a moça do caixa na padaria, mesmo ela fazendo cara de bosta por ter acordado às 6:30 da manhã para trabalhar. Ela sorri, e me deseja um ótimo dia. Aliás, mais um dia completamente planejado e com um final previsível, chegando em casa cansado do serviço e esperando sair o jantar. Mas com o passar do tempo, você cansou da previsão, cansou de olhar à TV e saber a temperatura do dia seguinte, cansou de passar aniversários de namoro ganhando flores e promessas de amor ditas pelo mesmo cara no ano passado. Você cansou da minha previsão, cansou de mim. Hoje sou apenas mais alguém imprevisível e com o mesmo mau humor da mulher da padaria, hoje posso dizer que entendo ela e sua revolta ao acordar todos os dias por volta de 6:30 da manhã e me atender, a rotina cansa. Coisas previsíveis realmente são um saco, acho que também me cansei.
Eu era, eu sou. A ordem não importa. O que eu queria dizer é que, eu era uma espécie de não- ser. Não me preocupava com política, regras, códigos, pessoas que iam e vinham. Que estragavam ainda mais a minha vida. Ou na sorte me ajeitavam um pouco. Eu só vivia ali em meu quarto. Em meu obscuro. Na qual eu pensava. Que vida é essa, na qual eu morro centenas de vezes?. Afirmo claramente. Nasci na década, no século errado. Corrigindo. Estou completamente errado. Um caos. Um retalho de vidas não vividas. Minha alma despida. Saia do meu corpo, e dançava com a solidão a noite toda até o fim.

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