2014/06/30

Dia 1904

Não consigo mais rabiscar uma linha no caderno, não consigo pensar em frases que tenham sentido, não consigo mais escrever nem sobre as árvores, nem sobre o vento, sobre os pássaros e até mesmo sobre a dor.  Não há mais razões, não há mais inspiração, não há mais vontade. Esse é o último texto que escrevo. Sinto-me inútil a cada linha que passa, pois tudo está bem aqui dentro, cada palavra organizada delicadamente pelo meu coração com uma grande ajuda do cérebro. Coisa que nunca aconteceu antes, cada palavra escolhida, selecionada e pensada. E novamente tudo perde o sentido, as palavras, as frases, o texto, eu. Vou tentar recomeçar novamente. Você era o meu texto, as minhas palavras ensaiadas - mas que nunca necessitaram de ensaios - eram apenas palavras de um coração para outro coração. Você era o meu enredo, a minha estrofe, a minha vontade, a minha inspiração. 

E quando você supostamente se foi levou tudo com você. Deixou aqui apenas à tentativa, algo que eu não quero no momento. Dizem que eu devo te esquecer, dizem que eu devo te tirar de mim... Que eu preciso arranjar outra companhia qualquer, outros abraços, outros beijos, outras vidas. Mas não faz sentido. Isso que eles querem não me faz sentir o que você sempre fez. Eles não são você. Eles não entendem o quanto você significa pra mim, o quanto eu sou de você, o quanto há de você em mim. Eles jamais poderão entender. Não se tira do corpo o que se eternizou na alma. Estou tentando, aprendendo novamente a fingir viver sem ter você. E os sorrisos forçados voltaram para a minha vida. Será que dói em você como esta doendo em mim? Você sente a minha falta? Você sonha comigo? Passei a dormir mais cedo, tenho pesadelos com a noite em que tudo terminou. Queria saber como você vem suportando isso queria saber se ainda lhe restam sorrisos sinceros, se ainda lhe resta o amor que um dia foi nosso. Voltei a beber, viver na incrível utopia gerada por uma garrafa, ser mais feliz externamente mergulhando na tristeza que existe interiormente. Mas logo me cansarei dessa utopia e procurarei outras ilusões, quem sabe quimeras ou plutões. E te procurarei novamente em mim, no cantinho infinito que vive trancado, e lá te acharei. Intacto. Perfeito. E não mais - meu.

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