2014/06/21

Dia 1892

Uma vez me falaram que amar é se jogar de um precipício sem saber se lá embaixo vai ter alguém para segurar a gente. Foi a melhor definição de amor que já ouvi. Eu, que escrevo tanto e leio tanta gente que fala dessas coisas que damos o nome de sentimento, nunca tinha escutado nada tão verdadeiro. Amar é isso mesmo. É se jogar e não saber. É se entregar sem ter certeza. Aos poucos, buscamos a certeza do amor. Porque o amor para ser amor precisa de certezas. A certeza do encontro, a certeza da continuidade, a certeza da presença, a certeza da verdade.
Isso tudo não vai ser firmado em murais no facebook ou marcações de citações de Paulo Coelho ou Tati Bernardi. Mas é firmado em "pera ai que eu levo sua janta hoje" ou "eu te passo um café fresco enquanto você escreve". 
Só sei que ela gostava, ela gostava quando depois de muito tempo calada, ele pegava no seu queixo perguntando ― o que foi? Ele gostava quando ela dizia sabe, nunca tivera um papo com outro cara assim que nem tinha com ele. Ela gostava quando ele falava gozado se embolando nas próprias palavras, você parece uma pessoa que eu conheço há muito tempo. E de quando ele falava "calma, você tá tensa, vem cá" e a abraçava e a fazia deitar a cabeça no ombro dele para olhar longe, no horizonte até que tudo passasse, e tudo passava assim desse jeito. Ele gostava tanto quando ela passava as mãos nos cabelos da nuca dele, aqueles meio curtos, e dizia "bobo, você não passa de um menino bobo."
Me diz alguma coisa, vai. Me fala tudo aquilo que eu ando louca pra ouvir da sua boca. Sussurra, então. Ou me ensina a receptar telepatia, essa língua que só os inteligentes e evoluídos e incógnitos e brancas-nuvens conseguem decifrar. Porque eu já estourei minha cota de intuição. Diz que me adora, que gosta de mim, que sente saudades minhas e uma vontade insana de me ver em plena quarta-feira. Sei que não muda nada, mas eu preciso ouvir. Ou isso, ou eu pego minha bicicleta e dou o fora daqui. Agora. Sabe, não está dando muito certo, às vezes eu me sinto meio o Dick Vigarista gritando para o Mutley fazer alguma coisa. E você só olha meu desespero patético e fica rindo. E então? Como vai ser?
O jantar hoje, na minha casa ou na sua?

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