2014/03/16

Dia 1790

Apaixonar-se é a coisa mais louca que pode acontecer. É como se fosse uma forma socialmente aceitavel de insanidade.
O relacionamento é uma tentativa de preencher os vazios que ficaram em sua vida. A relação não está tão distante da que cultivamos com semi-conhecidos pela internet, que nos provocam afeição e despertam sentimentos que ultrapassam a tela de computador. Você começa a se questionar se gosta mesmo de alguém, ou da ideia fabricada que esse alguém se dispôs a passar.
São os hábitos que a sociedade vai incorporando, até chegar o momento em que a maioria das pessoas se vê presa numa espiral automática de checar o celular a todo o momento, deixar registrado onde está e o que está fazendo, se auto afirmar e acima de tudo: ter a aprovação do outro.
A anestesia que provoca pode ser traduzida como a sensação de se afastar da realidade para poder achar respostas sobre o mundo e conseguir enxergar a si mesmo. É essa complexidade que simboliza o cotidiano vazio e cheio de solidão, a busca incessante por vínculos que preencham e assim tornem a existência menos banal.
Aí entram as redes sociais como uma forma de ocupar ausências. Se você chega em casa e não tem ninguém te esperando para ouvir sobre o seu dia, aquele seu conhecido distante pode estar online e disponível para conversar. O que importa, no desenrolar das relações, é se aproximar e trazer o outro para perto, um perto tangível ou um perto transcendente.
Mas pra mim nunca se valeu um celular ou telas de computador. Nada se compara a um pegar de mãos ou um beijo demorado sem pressa pra acabar. Ou aquele abraço. Aqueeeele abraço de reencontro. E a parte legal de contar como foi meu dia pra alguém de perto é ouvir o som da risada dela perto do abajur, com o silêncio daquela sala enquanto conto algo engraçado como quando troquei o telefone e tentei atender o grampeador. 
Eu tinha tirado minha bota, usava uma camiseta regata branca e jeans. Coisa de cara da cidade. Ela usava apenas o jeans e meias de algodão. Me abraçou na cama atrás de mim pra ouvir minhas historias de minhas historias de minhas historias e ainda de minhas historias. 
Só lembro de depois estarmos sem roupa, ela grudada no meu pescoço falando baixinho no meu ouvido que me queria pelo resto da vida dela. A gente deitado na cama. Ela ali. E eu apaixonado. Tava bom pra mim.

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