2013/10/15

Dia 1621

A gente tem que manter os olhos abertos filho. Porque de vez em vez aparece um desgraçado querendo derrubar a gente. Temos que ter o muro solido, não deixar nada abalar. É aquela filosofia de ser forte, temos que adota-la como um filho que ainda esta sendo gerado dentro de nós. É batido, espancado, deixaram sequelas. Somos arrebentados, massacrados mesmo. Ficamos irreconheciveis tamanho são nossos machucados. Dai a gente abre o olho, bem, apenas o que da pra ser aberto. Enxergamos o sol invadir nossa janela sem nem pedir licença. E que coisa mais sem sentido isso, o mundo acontece logo cedo invadindo minha casa pela cortina e eu já querendo a boa educação da 'licença'. O mundo é filha da puta desde a hora que você acorda, ele não espera você lavar o rosto ou escovar os dentes. 
Bom, e eu ja sou profissional na arte de reclamar. Vou reclamar até do barulho do seu silêncio se eu estiver de mal humor. Eu sou o cara mais chato que existe, tenho meus 90 e tantos anos sem nem ao menos ter chego á 1/4 da meia idade na minha carteira de identidade. Carrego na bagagem as várias decepções que causei as mulheres que conheci. E o peso da culpa é só minha. Afinal, a culpa é sempre minha certo?
Quando tinha 12 anos e li em 'O Pequeno Principe' o seguinte dizer: "Tu és eternamente responsavel por aquilo que cativas".Eu não entendia a metafora ou a lição disso. Se talvez eu tivesse aprendido, com certeza não teria partido alguns corações por ai. "SE". Sinto muito por isso. A culpa não foi sua. 
Então fiz o que geralmente e normalmente faço de melhor. Eu desapareci. Eu desapareço sempre. Me torno uma sombra. Um eco. Acabo então só existindo aqui, em algumas palavras e muitas delas só fazendo sentido pra mim mesmo. Talvez quem sabe outras palavras de quem lê e também escreve me compreenda e assim sendo até, me perdoe por tamanha confusão. Eu respiro fundo, olho meu relógio dando voltas, meu café esfriando enquanto escrevo e me pergunto... "O que eu estou fazendo certo?"
Daqui 10, 20 anos o que vai ser certo? Eu vou conseguir olhar pra minha vida atual e me sentir realizado ou um fracassado? Vou sentir orgulho de alguma coisa ou, droga, sem nenhuma expectativa de ser interessante de novo. Ainda vou gostar de assistir filmes antigos de Stanley Kubrick e ler Nick Hornby? Ainda vou gostar de sentar na areia da praia la pelas 19, 20hs... com uma companhia bacana pra conversar enquanto nas pausas, ouvimos o mar bater na encosta? Será que ainda vou ter pique de subir na magrela e seguir pela estrada sem rumo definido? Ler meus livros na varanda, fazer um afago no meu gato quando chegar em casa. Detalhes da minha rotina, como colocar a chave sobre o balcão em frente a porta, parar de fazer a barba e olhar nos meus próprios olhos pensando coisas que nem eu sei?
"É só a maré la fora" eu vou pensar. "Vai ficar tudo bem, é só uma onda de coisas ruins, ja vai passar". "Esta tudo bem" tentamos nos convencer, "esta tudo bem". 
De que adianta viver afinal, se não fizer nada realmente extraordinário? 

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