2013/04/24

Dia 1507


Lembra-se?
Falar ao telefone era uma coisa discreta. Em aparelho publico de esquina ou de corredor de shopping falava-se baixo. Quando ligava de um posto da companhia telefonica a pessoa fechava-se numa cabine. Trocavam-se palavras necessarias, pois dava trabalho deslocar-se até um aparelho. Agora, na era do celular, todo mundo fala alto e até com espalhafato nas ruas, nos onibus, nos corredores, nos restaurantes (também, pela banalidade os assuntos não interessam a ninguem).
Não havia tanto cocô de cachorro nas calçadas dos bairros residenciais. Dava-se corda nos relogios. Era tranquilo andar a noite. O papel higienico era vendido em pacotes de um rolo, embora as familias fossem maiores.
Os culpados já não eram punidos.

As pessoas não eram obrigadas a suportar o mesmo narrador de futebol. Várias emissoras de TV transmitiam os jogos que quisessem, podia-se escolher uma ou outra pelo criterio de narrador menos chato.

As virilhas não eram depiladas. Não haviam tantas loiras. Helicoptero não era transporte urbano. Motocicleta era diversão de fim de semana. Os filmes faziam menos barulhos. Os vendedores de livros conheciam as obras pelo menos sabiam do que se tratava. Os bancos lucravam bilhoes e não cobravam mensalidade para você deixar seu dinheiro com eles nem para lh fornecer um simples talão de cheques.
Havia só 300 picaretas no Congresso.
Policia era policia. Bandido era bandido.
A Justiça era apenas cega.
Brasileiro pra morar fora tinha de ser exilado. O Natal era melhor. O Carnaval era melhor. O Sabado de Aleluia era melhor. O 7 de Setembro era pior. 
A corujinha da TV mandava as crianças para a cama ás 9 da noite. Os jovens iam para bares com livros debaixo do braço e parecia que os liam, pois sobre eles discutiam e se dividiam. Os artistas plasticos não desprezavam a parede. Instalações eram as sanitarias eletricas, hidraulicas, etc.
A buzina era um recurso para chamar a atenção de alguém e evitar acidentes. Os jornais não sujavam tanto as mãos da gente.
As familias podiam ir sem riscos aos estadios de futebol. Não havia hipotese de silicone.
Os pobres eram magros. Os apartamentos construidos para as familias de classe media tinham espaço para os moveis. As meninas de 12 anos brincavam de Barbie. A escola era publica, a rua era publica, a saude era publica, a opinião era publica... Privada era outra coisa.
Manga com leite fazia mal. Havia garoa.
O beijo era uma intimidade, não um espetaculo.
Parlamentares parlamentavam, ministros ministravam e presidentes presidiam. Garotinhos empinavam pipas. Pizza não era coisa feia. Cueca era vestimenta e não banco. 
E eu? Eu escrevia desde então.

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