2009/10/20

Dia 106

Esta é a diferença entre a realidade e a ficção. A ficção precisa fazer sentido. E alguns dias, nem eu faço sentido algum. Agente só fica assim, meio distante e meio avuado das coisas. Voando em outra galáxia. Pulando de estrela em estrela.
Tem dias que até nossas nuvens estão sem chão e agente cai lá de cima. Como uma bala jogada de um canhão. Pesadas. Daí caimos em câmera lenta e flutuamos antes de pousar levemente sobre o chão.
Eu vou ser velho um dia. Vou me sentar no banco do parque. Um parque enorme. De frente pro banco, tem um grande campo aberto de grama verdinha e aparada. Vou ter nas mãos um caderninho com capa de couro, um lápis usado e pequeno mas macio de se usar para escrever. Meu caderno vai estar com as folhas meio amarelas pelo tempo.
Do banco, da pra ver todo o campo. Minha visão cobre tudo e eu ainda não vou precisar usar óculos. Ainda não.
Do meu lado direito vejo uma família. Uma mãe, seu esposo e 2 filhos pequenos. Meninos. Entre 6 e 7 anos os dois. Eles fazem piquenique abaixo de uma sombra de árvore grande. Deve ser mais velha que eu a árvore. Cobre toda a família. Tem uma cesta grande em cima de um pano grande também. Todos sentam em volta da comida enquanto o papai faz graça para as crianças. Depois de comerem, as crianças brincam perto deles, enquanto mamãe deita sobre o peito de papai, vendo as crianças se divertirem.
Do outro lado, há um casal de namorados. Estão sentados de frente um pro outro. Sorrindo e dando aqueles pequenos beijos que só quem namorou sabe como eles fazem falta quando estão longe um do outro. As pernas dele estão do lado dela e as dela do lado dele. Ele passa a mão suavemente em seu rosto, trazendo-o pra mais perto, pra poder falar em seu ouvido. Ele diz alguma coisa, ás vezes nem é engraçado, mas ela faz uma cara de espanto e da um tapinha de leve nele e logo cai na risada. Pra essa idade, levar uns tapinhas é legal, é como se disesse 'fico muito boba quando você diz isso' ou 'fico muito sem graça quando diz isso' ou ainda 'vou lembrar disso o dia inteiro agora'...
Ás vezes agente se pega meio assim, indo adiante no tempo, imaginando coisas... Acho que hoje eu só to meio velho... Acho que hoje só estou brincando com as folhas no parque.

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