2009/08/24

Dia 28

Eu conheci um cara uma vez que não tinha 2 dedos no pé. Conversando com ele, me contou que tinha perdido os dedos num acidente em uma fábrica a muitos anos atrás. Com o passar do tempo, fomos pegando mais confiança e eu resolvi dizer a ele que eu estava apaixonado por uma garota. Ele me contava várias histórias mas nunca me contou nenhuma envolvendo uma mulher.
Então... eu disse que havia me apaixonado perdidamente por uma mulher, ela era diferente de todas que eu já havia conhecido. Era o modelo perfeito pra um cara estragado como eu. Tudo que eu sonhava, tudo que eu precisava...
Ficamos muito íntimos como amigos e eu sempre contava tudo a ele. Até as coisas ruins. Embora tudo que eu contasse pra ele, ele sempre me dizia pra tomar cuidado com as coisas relacionadas a isso. Embora eu não soubesse, ele já conhecia muito sobre o assunto.
As coisas foram mudando de repente e aquela mulher perfeita pra mim se torna uma igual a todas as outras e todos os motivos que nela me chamavam a atenção, simplismente se esvaiaram debaixo de futilidades, imbecilidades, falsidades e mentiras. -Traição.
Bem... esse cara que virou meu amigo, esperou um tempo depois de toda a lastimação dos acontecimentos para me contar outra história:
Disse que ele não havia perdido os dedos em uma fábrica anos atrás. Disse que uma vez, ele se apaixonou por uma mulher, perdidamente. Disse que fez tudo por ela, se sacrificou ao máximo, fez o que podia e o que não podia para agradá-la. Deixou tudo e todos de lado, só para cuidar dela. Então, sem muita explicação, ela parte deixando-o e segui sua vida com outra pessoa, totalmente diferente dele, com outros propósitos e outro estilo de vida.
E disso, não aguentou a dor que era demais. Tentava não sofrer tanto com aquilo mas não suportou. Então, pegou sua espingarda e atirou no pé, para assim, de alguma forma, fazer doer outra parte do corpo que não fosse seu peito... tirar a atenção da dor que sentia pelo acontecido. O que não resolveu muito disse ele, por que depois ainda continuou com a dor no peito junto com a dor no pé e pior, sem 2 dedos. Mas ele me disse também, que toda vez que ele olhava pra baixo e lembrava o por que tinha feito aquilo, lembrava também de erguer a cabeça e lembrar de que cada cicatriz que agente tem, é uma lembrança de que nosso passado foi real.
O que me faz pensar, quantas cicatrizes teremos que ter até conseguir tudo que sonhamos? E quando os dedos acabarem? Como fazer para que certas dores vão embora?
Ainda bem que há ainda pessoas que podem cuidar de nós... com algumas ataduras e band-aids e tudo fica bem de novo... pra que novas histórias sejam contadas a novas pessoas.


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